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entre o risco e o repouso
2025, costura e amarrações em diferentes tecidos, chassis em madeira; 70 cm x 50 cm x 20 cm 

Entre o que sustenta e o que cede, uma linha-corpo-que-desenha atravessa o espaço como quem arrisca um toque, como quem deseja sem encostar. A matéria não veste mais — ela arde. Há ali uma tensão antiga entre abandono e oferta, entre contorno e carne. O gesto da costura não é apenas reparo, mas insistência: ponto a ponto, uma fricção que lembra, que chama. O vermelho risca o ar como quem percorre uma pele que já não está. Tudo ali vibra: a dobra, o pêndulo, a suspensão. Vibra como o corpo que espera ser lido, não com os olhos, mas com a respiração entrecortada. Não há grito, mas há vertigem. Há um desejo quieto que se insinua entre as fendas, no recuo do pano, na curva que se oferece. A moldura é só um limite aparente — o que se revela é o interior do gesto, a carne do tempo. Tudo o que se mostra ali roça um prazer de ausência, uma febre que se sustenta no que não se diz. É um corpo-entre, curvado no limiar do toque.

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